terça-feira, 24 de março de 2009

12º jogo das 12 palavras

Exaustos, imundos e sequiosos PARTILHAVAM irmãmente os poucos víveres que sobejaram e sentiam-se agradecidos pelo pequeno pedaço de pão, seco e bolorento, como se tratasse de VITUALHA digna de reis.
A fome e a sede eram suportáveis a estes habituados à frugalidade, habituados à SIMPLICIDADE e à privação de sono e conforto.
A necessidade de se manterem atentos e despertos não lhes permitia dormirem; o ódio pelo inimigo e o desejo de vingança mantinham nestes homens a CORAGEM e o vigor semelhante à dos heróis cantados em ODES e epopeias.
Junto aos feridos e moribundos um mancebo, criança ainda. Chamavam a este BENJAMIM, pela sua ainda resistente beleza e infantilidade. Tocava uma FLAUTA; sons da sua terra, de sua casa, sons de saudade e de esperança. Contrastavam estas inebriantes melodias com os gritos e gemidos de dor, dos decepados, dos mutilados, dos esventrados, daqueles que perdiam o seu sangue e impotentes e desesperados, aguardavam em agonia arrepiante e assustadora resignação a chegada da morte.
Os mais velhos e experientes, contavam com entusiasmo exagerado e falacioso desta gente à guerra usada, histórias de aventuras e desventuras, de batalhas, glórias, de mulheres e seus encantos, de paixão, de AMOR, de bravura e valentia sem par e sem igual, falavam de honra e de vitórias.
Alguns, mais devotos, oravam aos Deuses, suplicavam por sucesso na batalha que se adivinhava, invocavam protecção divina, entoavam cânticos e invocações mágicas, ancestrais; sobre o inimigo pesada MALDIÇÃO se abateria. Por esta fé, VERDADE insuspeita e inabalável, todo o medo desaparecia e ganhava força o desejo de matar; de viver.
Aproximava-se a hora, brevemente se iriam ouvir os sons das trompetas, sentir-se o peso das armas e frágeis armaduras. Os generais preparavam o embate final, jogando com a vida de seus subalternos, TECIAM planos de combate, decidiam quantos a sacrificar e dividiam entre si o possível espólio da vitória.

O dia nascerá mas sem que se ouça o canto das aves, fugiram para longe em direcção à paz…a última que se viu era um BEIJA-FLOR!

António Rios

quinta-feira, 19 de março de 2009

Pai


Hoje é dia do pai.
É o dia do meu pai, de outros e tantos pais mas não é meu.
Lembrei-me de ti pequenino, de quase ter sido o teu sem o ser.
Se calhar até fui e acho que ainda sou e continuarei a sê-lo ou quero crer que sim.
Fica a faltar a troca de olhares e sorrisos, o ciúme e o desejo de que fosses verdadeiramente meu e o dia por ser o dia do que não sou.
Ao meu pai agradeço por o ser, a ti por me teres tido como sendo.

António Rios

domingo, 8 de março de 2009


domingo, 1 de março de 2009

Porque hoje te encontrei...

Soneto do amigo

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

Vinicius de Moraes

Porque se passou outra noite sem ter o prazer de dormir!

Lacrimae Rerum

Noite, irmã da Razão e irmã da Morte,
Quantas vezes tenho eu interrogado
Teu verbo, teu oráculo sagrado,
Confidente e intérprete da Sorte!

Aonde são teus sóis, como coorte
De almas inquietas, que conduz o Fado?
E o homem por que vaga desolado
E em vão busca a certeza, que o conforte?

Mas, na pompa de imenso funeral,
Muda, a noite, sinistra e triunfal,
Passa volvendo as horas vagarosas...

É tudo, em torno a mim, dúvida e luto;
E, perdido num sonho imenso, escuto
O suspiro das cousas tenebrosas...

Antero de Quental